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Tiãozinho: o motorista de ônibus que me inspira a ser melhor

Motorista de ônibus por profissão, mas músico na sua igreja e jogador de futebol nos finais de semana com seus amigos, demonstrava no trabalho a mesma disponibilidade que na vida particular
Foto: Angelika Graczyk/Pixabay

A calvície tinha tomado conta da metade do crânio e o resto do cabelo que sobrara era escuro e escovado com visível cuidado. Não aparentava ter um 1m70, mas o corpo, ágil para um homem próximo dos 60 anos de idade, lhe dava um ar juvenil: sempre ligeiro e disposto!

Motorista de ônibus por profissão, mas músico na sua igreja e jogador de futebol nos finais de semana com seus amigos, demonstrava no trabalho a mesma disponibilidade que na vida particular: era sempre pontual, recebia os passageiros com um sorridente bom dia, era cuidadoso ao conduzir o veículo – ciente e maduro da responsabilidade que tinha – e fazia questão de dar um tchau para os passageiros mais chegados quando desciam do veículo.

Nesses tempos em que a vida é sempre tão cheia de compromissos, responsabilidades e pesos, ele era um exemplo de gentileza urbana em um trabalho cujos humores, tanto de motoristas quanto de passageiros, variam de segundo em segundo!  Enquanto os outros colegas de profissão, por vezes, mal respondiam um simples cumprimento do dia, Tiãozinho usava da cordialidade até mesmo nas situações desagradáveis – mas, corriqueiras – da rotina! Passageiro mal educado ou reclamão era recebido com uma resposta honesta, mas polida. Outras vezes, silenciava ou concordava porque sabia que as reivindicações do transporte público eram, muitas vezes, reais e necessárias.

Conduzia o ônibus sendo o exemplo modesto de como se viver melhor e era nítido o reflexo de seu comportamento entre os passageiros mais costumeiros. Se “gentileza gera gentileza”, Tiãozinho era para mim um protótipo - silencioso e fundamental - do comportamento humano, sábio e paciente, em um ambiente de trabalho sujeito a conflitos.

Teria diploma? Ainda não perguntei. Nas horas vagas, se é que existam, dedica-se a cursos de capacitação? Acredito que não. Tiãozinho é, claramente, formado na escola da vida e as intempéries – que cruzam o caminho de todos nós, indistintamente - não fizeram dele um homem rude. Ao contrário, o adoçaram para o convívio! Todos os dias pela manhã, quando entro no ônibus conduzido por ele, sinto-me privilegiada e agradecida, e respondo o bom dia com o mesmo empenho cortês. Sentada no meu banco, o observo pelo percurso sendo simpático com o jornaleiro, dando o troco em dinheiro sem cara feia, já que não há mais trocador para apoiá-lo na linha, e mantendo a calma quando o ônibus estraga e todos reclamam com medo do atraso.

Tantos engravatados com especializações internacionais e narizes em pé, tantas diretoras de salto alto e pouco tato, assistentes e recepcionistas com zero cordialidade. E o Tiãozinho, com a sua gentileza, sendo referência de elegância e profissionalismo diante de uma função que, sabemos, não é mole!

Quais pessoas inspiram você no seu dia a dia?


 

 


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