texto sobre amor e pandemia

Responsabilidade afetiva em tempos de pandemia

Aumentou o acesso aos aplicativos de paquera, mas uma coisa não muda
Foto: Andrea Piacquadio no Pexels

Em tempos de pandemia e aplicativos de paquera tem sido difícil flertar no sentido tradicional da palavra. E, se você é uma pessoa comprometida, talvez não entenda a ligação entre os temas, mas os solteiros compreendem perfeitamente. 

As oportunidades de trocar aquele olhar no barzinho estão escassas, mas o match anda forte. Porém, se por um lado é fácil curtir e ser curtida por uma simples foto, manter a conexão é outra história. E não estamos falando do wi-fi; o papo é sobre se conectar, descobrir afinidades e seguir um pouco adiante em uma relação.

Seja na vida off-line quanto na vida on-line, afinidade é uma percepção que a gente sente rápido. O papo combina, as piadas se encontram, rola um charme sutil perdido entre figurinhas divertidas e emojis de risos. Trocam fotos sobre xícaras de cafés ou plantas, compartilham dicas de filmes ou séries, indicam livros e descobrem se gostam mais de cerveja ou vinho.

Porém, ao contrário da vida real, no mundo virtual as oportunidades parecem ser mais diversificadas. E neste quesito é impossível não lembrar do livro "Vida Líquida" de Zygmunt Bauman: tudo, nestes tempos atuais, sempre soa superficial ou efêmero.

A impressão é de que não há o desejo de se criar laços, pois nossa corda está cheia de pequenos nós. Alguns, diga-se de passagem, frouxos o suficiente para desatarem com facilidade.

Não é sobre viver o momento, não é sobre curtir alguém, é sobre se sentir descartável antes mesmo de ter compartilhado o melhor e o pior de nós mesmos.

Então, ficam pelo caminho as pessoas interessadas em conexões que não se baseiem em meros emojis, mas sim, em uma atenção genuína. O desejo é ter alguém interessado em saber como foi o nosso dia, que pergunte o resultado do exame médico, nos convide para um filme de comédia acompanhado de pipoca ou faça - Pasmem! - uma ligação, no sentido mais tradicional da palavra, para uma conversa informal.

Troca-se o toque da pele pelo envio de um nude, o sussurro no ouvido por uma mensagem picante e substitui-se uma boa companhia por outra que, talvez, pareça mais conveniente, em determinado momento. 

Conveniência, aliás, é a palavra da nossa geração egóica: poucos estão dispostos a um diálogo mais franco. Basta mandar um WhatsApp dizendo "Vamos ser bons amigos!" e seguir a vida adiante, sem ter um novo amigo de fato. Relacionar e criar laços exigem sair da nossa área de conforto, ter empatia, saber ouvir, falar e estar disposto ao encontro. Dá um trabalhinho mesmo! 

Porém, o bom dessa história é que ela não é igual para todo mundo! E, se boa parte dos que andam por aí não estão dispostos, há vários outros exemplos de quem se conhece, se gosta e se conecta. Alguns se casam, outros têm filhos, uns se tornam ótimos amigos, uns seguem caminhos diferentes, sem mágoas, e têm aqueles que estão felizes se encontrando assim de vez em quando sem rótulos. Não é sobre como um relacionamento tem que ser, mas é sobre quantas oportunidades a gente perde por manter os olhos mais lá fora que nas relações que podemos construir aqui dentro. É sobre não ser raso, é sobre responsabilidade afetiva, é sobre ser claro nas intenções que você tem a respeito do outro.  E, principalmente, é sobre você ter clareza a respeito do que você deseja para si mesmo.


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