"Nossos corpos colados rumo ao apogeu" foi uma das frases que escrevi em uma cartinha de amor encomendada por uma amiga da infância. Ela gostava de um menino e, naquela época, eu já tinha fama de ser boa com as palavras. Eu sei que a frase soa estranha vindo de uma criança, mas eu tinha ouvido "rumo ao apogeu" em uma música e achei que "corpos colados" era uma ideia bonita sobre duas pessoas seguindo a vida juntas. Nada mais que isso! O problema foi que a mãe da minha amiga encontrou a carta e levou cada frase ao pé da letra.
_Como assim corpos colados?!
_Mãe, quem escreveu essa carta foi a Cristiane.
Era verdade, mas a mãe dela não acreditou, pois nossas letras eram muito parecidas. Minha amiga ficou um mês de castigo e, eu com medo da mãe dela, não cheguei nem na esquina de onde elas moravam. A fatídica cartinha de amor desapareceu, mas a história não, pois relembramos sempre entre muitas risadas.
Naturalmente, a escrita foi me encontrando. Alguns anos depois, escrevi um texto de homenagem a uma aniversariante de 15 anos que, durante sua festa de debutante, saía de uma imensa rosa artificial. Fosse hoje, seria crônica de humor! Porém, em pleno anos 1990, sair de uma rosa enorme era luxo de gente rica.
E, além de sair por aí, escrevendo elogios fáceis para aniversariantes, também me aventurei no universo do ghostwriting. Palavra que, no bom português, significa escritor fantasma e se refere a pessoas que escrevem sobre algo, mas não assinam as obras. Pois bem! Eu fui ghostwriting de muitas cartas de amor enviadas pelas minhas amigas adolescentes aos namoradinhos. Eu destrinchava promessas, declarações e elogios às qualidades dos moços sem parcimônia. Carta finalizada, minhas amigas as copiavam, tal e qual, usando canetinhas coloridas em papéis perfumados. Tem muito marido de amiga minha que sequer sonha ter recebido palavras de amor saídas da minha mente fértil.
Claro que também escrevi as minhas verdadeiras cartas de amor, mas tendo cometido o terrível erro de assiná-las e entregá-la aos destinatários. Vinte e tantos depois, chego à conclusão que eu deveria ter criado pseudônimos ou assinado minhas cartas com frases que só a maturidade é capaz de inferir: “Amor eterno que não será eterno”; “Daqui 20 anos vou morrer de vergonha se fosse mostrar essa carta para alguém” ou algo tipo “Te adoro agora, mas na vida adulta vou casar com o seu primo”.
O fato é que as cartas de amor passaram e eu me tornei, inevitavelmente, jornalista. Textos com técnicas e tentativas de imparcialidade. Alguns anos depois, uma reles escritora metida à contadora de histórias e desbravadora de percepções.
E você? Qual foi a sua primeira carta de amor?
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