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Rita Levi-Montalcini: a dama da ciência

A italiana Rita Levi-Montalcini é uma mulher memorável. Desafiou os limites de seu próprio tempo, nunca se casou nem teve filhos para, segundo ela, “se dedicar integralmente à vida científica
Foto: Reprodução

A italiana Rita Levi-Montalcini é uma mulher memorável. Desafiou os limites de seu próprio tempo, nunca se casou nem teve filhos para, segundo ela, “se dedicar integralmente à vida científica” – sua grande paixão.

De família judaica, nasceu na cidade de Turim, em 1909. Aos 20 anos, contrariando o pai que desejava vê-la casada, entrou na faculdade de Medicina. Os estudos foram interrompidos pelo início da perseguição aos judeus, que culminaria, anos mais tarde, na II Guerra Mundial. Refugiada em uma área rural de Piemonte, estado onde nascera, improvisou um laboratório na própria casa e estudou as células usando embriões de galinhas. Os resultados dessa pesquisa lhe renderam um convite, em 1947, para a Universidade de Washington, em St. Louis, Missouri (EUA), onde se formou em Neurologia.

Em 1951, Rita veio ao Brasil para realizar experiências de culturas in vitro no Instituto de Biofísica da Universidade do Rio de Janeiro. Trazia, além da persistência de sempre, dois ratinhos portadores de um tumor que pretendia pesquisar. Foram neles que ela identificou o fator de crescimento das células nervosas, batizado de Nerve Growth Factor (NGF), feito que lhe proporcionou, em 1986, o Prêmio Nobel de Medicina, junto com seu então assistente, Stanley Cohen. Esses estudos tiveram papel determinante na compreensão das formas de evolução do câncer, além de doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson.

Igualmente reverenciada por colegas e cientistas, Rita sempre frisava a importância da solidariedade. Pensava, antes de tudo, no que seu trabalho poderia proporcionar de melhor para a vida de outras pessoas. E alertava: para viver bem, manter a cabeça ativa, independentemente da idade, era a chave da longevidade.

Em 2001 criou a Fundação Rita Levi-Montalcini, que ajuda meninas africanas, vítimas da violência e pobreza, a continuarem estudando. Viveu até os 103 anos em plena atividade profissional e deixou um trabalho inspirador.

Em homenagem aos seus mais de 105 anos de nascimento, a Ecológico selecionou alguns pensamentos dessa grande dama da ciência. Confira:

Oratória

“Hitler e Mussolini souberam como falar ao povo, onde sempre prevalece o cérebro emocional por cima do intelectual. Conduziram emoções, não razões!”

Mulher

“A religião marginaliza muitas vezes a mulher perante o homem, afastando-a do desenvolvimento cognitivo. Mas algumas religiões estão tentando corrigir essa posição.”

“Muitos descobrimentos científicos atribuídos a homens realmente foram feitos por suas irmãs, esposas e filhas.

 Cérebro

“Mantenha seu cérebro ativo com ilusões e pensamentos. Faça com que ele trabalhe. Assim, ele nunca se degenerará.”

“O progresso depende de nosso cérebro. A parte mais importante dele, a região neocortical, deve ser usada para ajudar os outros e não apenas para fazer descobertas.”

Vitalidade

“Perdi um pouco a visão, e muito a audição. Mas penso muito mais agora do que quando tinha vinte anos. Que o corpo faça aquilo que quiser. Eu não sou o corpo: eu sou a mente.”

“A chave é manter curiosidades, empenho, ter paixões! Não me refiro às físicas especificamente, mas a qualquer uma. Simplesmente tenha paixões!”

“O segredo da minha vitalidade é que eu vivo de hora em hora, constantemente envolvida com pesquisas científicas e com os problemas sociais. Não tenho tempo para pensar em mim. Minha vitalidade é derivada da total indiferença por mim mesma.”

Méritos

“Minha inteligência é mais que medíocre. Meus únicos méritos são o empenho e o otimismo. A ausência de complexos psicológicos, a tenacidade de seguir o caminho que considerava justo, o hábito de subestimar os obstáculos – traço que herdei de meu pai – me ajudaram enormemente a enfrentar as dificuldades da vida. A meus pais devo também a tendência a ver os outros com simpatia, sem desconfiança.”

Generosidade

“É fundamental para as pessoas, do ponto de vista científico, ter um objetivo que inclua a ajuda àqueles que não têm o privilégio de pertencer à elite científica e tecnológica.”

“Desde jovem, meu desejo era ir para a África, encontrar o teólogo e médico alemão Albert Schweitzer, para cuidar dos leprosos. Hoje, dedicar-me a ajudar os outros é o que conta. Devemos ter uma total dedicação para com quem precisa de ajuda, especialmente as populações que são mais exploradas, como as da África. E, principalmente, as mulheres que foram arruinadas, física e psicologicamente.”

Facismo

“Há o perigo de vivermos isso novamente. Em momentos críticos, prevalece o componente instintivo do cérebro, que camufla o raciocínio e incentiva os jovens a pensar como se fossem parte de uma raça superior a tudo.”

Imperfeição

“A razão é filha da imperfeição. Nos invertebrados, tudo está programado: são perfeitos. Nós, não. E, ao sermos imperfeitos, temos recorrido à razão, aos valores éticos: discernir entre o bem e o mal é o mais alto grau da evolução darwiniana!”

 

Aposentadoria

“Aposentar-se é destruir o cérebro! Muita gente se aposenta e se abandona. E isso mata seu cérebro. E adoece.”

Imortalidade

“A vida não termina com a morte. O que restará de nós é aquilo que transmitimos às outras pessoas. A imortalidade não é o nosso corpo, que um dia fatalmente morrerá. O que importa é a mensagem que deixamos aos outros.”

Matéria publicada originalmente na Revista Ecológico

 


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