A primeira vez que li um poema de Cecília Meireles devia ter oito ou nove anos de idade. "Ou isto ou aquilo" tocou meu pequeno coração. A dúvida sobre escolher entre duas coisas que desejamos, igualmente, começou a fazer sentido ali. Logo depois, li "O vestido de Laura" e foi o suficiente para que eu não me esquecesse mais dele. A minha memória, curta para dar recados, sempre foi excelente para relembrar os momentos mais simples da infância! E Cecília faz parte deles, já que sempre encontrei nas palavras dela, acalento e espelho.
A carioca, nascida em 1901, trabalhou como escritora, professora e jornalista. Foi uma das primeiras vozes femininas de grande expressão na literatura brasileira. Afetiva, saudosista, melancólica, delicada e precisa, Cecília tem no próprio nome uma sonoridade poeta.
Atualmente, estou lendo "Cecília de Bolso - Uma Antologia Poética", da L&PM Pocket, com organização e apresentação de Fabrício Carpinejar. Uma delícia de obra, em que você não tem a menor obrigação de ler em ordem cronológica, ou devorar em sete dias. Basta deixar em algum canto da estante, onde seja possível pegar e abrir em qualquer página. Desse livreto, com pouco mais de 180 páginas, colhi algumas pérolas para dividir com vocês. Um conselho? Aprecie sem moderação:
"Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo"
"Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha"
"Somos uma difícil unidade
de muitos instantes mínimos
- isso seria eu"
"Se não houvesse saudade,
solidão nem despedida...
Se a vida inteira não fosse,
além de breve, perdida!"-
"Que procuras? - Tudo! Que desejas? - Nada!
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão"
"Que o teu olhar, estando em toda parte,
Te ponha em tudo,
Como Deus"
"Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar"
"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta"
"Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar"
"entre o planeta e o Sem-Fim,
e asa de uma borboleta"
"Nós cinco sabemos de tudo
e estamos sorrindo sem medos"
"Não perguntavam por mim,
mas deram por minha falta.
Na trama da minha ausência,
inventaram tela falsa."