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Minha vida de menina: o livro inesquecível

Li “Minha vida de menina”, escrito por Helena Morley, pseudônimo da mineira Alice Dayrell Caldeira Brant, quando tinha 14 anos.
Foto: Divulgação

Li “Minha vida de menina”, escrito por Helena Morley, pseudônimo da mineira Alice Dayrell Caldeira Brant, quando tinha 14 anos. Na escola onde eu estudava havia uma pequena biblioteca com obras suficientes para atender meu gosto pela leitura. Caminhando pelos pequenos corredores da sala fui atraída pelo nome do livro, já que afinal, eu também era uma garotinha cheia de ideias. Levei-o para casa, li cada página e nunca mais me esqueci dele! Tanto, que três ou quatro anos depois, qual foi a minha surpresa ao descobrir que ele era um dos livros indicados para o vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A obra, que escolhi por acaso e memorizei por gosto, cruzou meu caminho algumas outras vezes na vida: citada em outros vestibulares, dada como presente de amigo-oculto para algum colega próximo ou mesmo resgatada pela minha lembrança como um delicioso livro. Aliás, “Minha vida de menina” e “O Pequeno Príncipe” são os livros que planejo dar a minha sobrinha quando ela chegar à pré-adolescência, um desejo que ainda levará uns oito anos para ser cumprido... 

Primeira capa do livro Minha vida de menina e Helena MorleyNa imagem: Helena Morley, autora do livro, e a capa da primeira edição - Crédito: Divulgação

Resenha - “Minha vida de menina” foi escrito por Alice, uma garota filha de pai inglês e mãe mineira, que vivia em Diamantina (MG) no século 19. Aconselhada pelo pai a escrever em um diário, a garota registrou nos anos de 1893 a 1895, com olhar muito próprio e espontâneo de sua idade, relatos da rotina de sua casa, escola, amigos e familiares, em um período que a cidade enfrentava a crise da mineração com a escassez dos diamantes e a recente abolição da escravatura no Brasil. As páginas mostram questões muito próprias daqueles tempos, tais como, a situação social dos negros libertos, o papel da mulher na sociedade, os protocolos religiosos, as comidas típicas e as dificuldades financeiras do pai da autora.

Apesar de escrito no final do século 19, o diário de Helena Morley só foi publicado em 1942, quando a autora manifestou o desejo de deixar para os familiares os relatos de sua infância e as diferenças entre a vida simples que ela teve enquanto garota comparada a das netas. Após a publicação, o livro tornou-se um importante registro social histórico de uma época.

Referência - Elizabeth Bishop, considerada uma das mais importantes poetisas do século XX , ficou tão envolvida pela obra que a traduziu para a língua inglesa, sendo publicada em 1957, e o grande Guimarães Rosa disse certa vez que “Minha vida de menina” era um verdadeiro relato da infância.


Fique por dentro:

O livro também foi adaptado para as telas do cinema em 2003 e ganhou vários prêmios, entre eles, seis Kikitos no Festival de Gramado. O filme foi dirigido por Helena Solberg e a atriz Ludmila Dayer interpretou a personagem principal.

Na Saraiva ele está disponível por R$17,90. Preço e disponibilidade sujeitos à alteração.

Em 2017, “Minha vida de menina” entrou na lista de livros exigidos pela Fuvest, fundação que organiza o exame para ingresso na USP.


Trecho do livro:

21 de janeiro

"Quando eu tenho inveja da sorte dos outros, mamãe e vovó dizem: "Deus sabe a quem dá sorte". Na Boa Vista agora é que eu acabei de crer. Já disse a vovó que ela quase nunca erra, quando fala as coisas. Nós todos, os meninos e meninas da Boa Vista, depois que acabamos de jantar e que meu pai e tio Joãozinho despacham os trabalhadores, a coisa que mais gostamos é ficar descalços, com o pé no molhado, subindo e descendo o desbarranque da lavra, procurando diamantinhos e folhetas de ouro, pois tudo meu tio compra. Diamante é raro achar, mas folhetas de ouro a gente encontra sempre...”


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