Todo boteco é um universo paralelo. Cada um é o que quer e isso varia de acordo com a quantidade de cervejas que o sujeito já bebeu.
No boteco cada mesa é um planeta, e em volta dele, satélites de cabelos longos, recém-formados de gravatas e filosofias ralas, garçons atarefados e cantadas que quase sempre dão certo!
A vida no boteco tem um sentido: beber, petiscar, falar mal do chefe, reclamar do time de futebol e paquerar o moço ao lado. Não, necessariamente, nesta ordem.
Não interessa muito o requinte ou a falta dele, porque na verdade, no boteco a única coisa importante é o tamanho dos banheiros. Normalmente, as portinhas dos gêneros estão lado a lado para que se permitam diálogos tais:
_ Cheio né?
_ É…
_ Qual o seu nome?
_ Camila. E o seu?
_ Rafael.
Silêncio constrangedor.
_ Ah... Agora é a minha vez!
_ Vai lá!
Depois do encontro próximo ao banheiro, eis que se veem e unem os planetas: os satélites loiros com os recém-formados de gravata. Elas vão bebericar a cerveja long neck e eles vão afrouxar as gravatas. Falarão sobre o que fazem, o que querem e o que pretendem da vida, não com tanta sinceridade, mas com fina sutileza, própria de quem acaba de se conhecer.
Enquanto isso, o rei do universo paralelo, vulgo o garçom, interrompe:
_ Mais uma?
_ Claro, claro!
Afinal, não há vida no mundo do boteco sem cerveja e satélites exóticos.
*Texto escrito por Cris Mendonça em 2008.