Procuro um lugar. Desses que têm um pergolado coberto de folhas verdes e buganvílias de rosa intenso. Num canto, o Sol da manhã; no outro, a sombra desejada por quem já se aqueceu. Piso antigo e geométrico. Cerca de madeira desbotada pelo tempo. Mesa redonda e seis cadeiras. Uma rede azul.
Na mesa, um bule de ferro, uma xícara de café e quitanda. Ao lado, um livro que nos leva para o coração de outras pessoas, às estradas dos novos lugares.
Gabriel García Márquez me conta histórias de Macondo, Machado de Assis me fala de um outro Rio, enquanto Cecília Meireles recita versos.
No quintal, os pés pequenos de quem ali deixará raízes. No varal, as roupas coloridas de alma.
Diante da varanda, o horizonte de quem crê em dias melhores. Um pôr do sol tão intenso que cansa o olhar. E à noite...Ah a noite! Um céu denso de tantas estrelas, uma Lua Cheia impossível de se fotografar, um amor para namorar.
E eis que me visitam. Sentam e conversam. Olham nos meus olhos, estão presentes na minha presença. Outros chegam. Damos risadas, falamos besteiras, bebemos vinho como quem sente o rubor subir pela face. Corados e agitados nos colocamos a dançar. E quando todos vão embora, sei que nunca irão me deixar.
E lá do terraço, liberdade retangular, eu me guiarei por todos os lados. Os que estão fora, os que estão dentro. Árvores e pássaros. Prédios e janelas. As maritacas de um fim de tarde, um casal de idosos dançando na sala.
Procuro este lugar, incessantemente. E sei que não há preço e não está à venda. Sei onde fica, mas me perco quando tento chegar. Avisto ao longe. Dou passos. Creio aproximar.
Copyright © 2023 I Cris Mendonça. Um lugar para descansar. Todos os direitos reservados.