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A arte de se dar um tempo

Páginas em branco, redes sociais não atualizadas e convites não aceitos. Ela se deu um tempo!
Foto: Freepik

Páginas em branco, redes sociais não atualizadas e convites não aceitos. Ela se deu um tempo! Se afastou no intuito de se encontrar. Não interessa se a atriz Fulana foi vista no shopping, se Beltrana viajou, se as calças flare estão na moda ou se a irmã ainda não fez as pazes com o marido. Desligou a TV por dias e se deu o direito de não ler as últimas notícias sobre política ou violência.

Resgatou o livro cuja leitura foi parada na página 75 e enquanto mergulhava no mundo daquelas palavras, economizou as suas. Substituiu dar opinião por dar ouvidos! E escutou. E entendeu que muitas vezes quando um outro reclama, ele não deseja ou não consegue encontrar a solução, quer apenas desabafar. E se permitiu a não encontrar a resposta – nem para ela e nem para os outros.

Ao tomar banho dedicava o pensamento à experiência dos sentidos: a temperatura da água que escorria pelo corpo, o perfume de lavanda que o sabonete exalava, o barulho mecânico do chuveiro e a maciez da toalha azul.

Durante o almoço, mastigava pacientemente sentindo o sabor de cada alimento: o tempero da carne, o azeite sobre a salada e o gosto de cada legume.

Trocou os shoppings por visitas solitárias ao museu: nada de fotografias das fotografias, apenas o andar vagaroso e o olhar observador – como assim também era – ao ver as pessoas e as coisas.

As casas da sua rua tinham cores que antes ela não enxergava e as janelas do 5º andar pareciam soltar faíscas com o sol das 15 horas. A quaresmeira anunciava novas flores, mas a grama da praça continuava seca. 

A rotina permanecia, o relógio a despertava às seis da manhã e o trajeto até o trabalho continuava, geograficamente, o mesmo. Mas, ela não! Foi como ter se agasalhado com a própria pele, ter se enxergado com os próprios olhos, ter falado para si mesmo ouvindo a própria voz. E nesse mundo onde tudo parece tão rápido e urgente, ela se permitiu a seguir no próprio ritmo! Cada tarefa tinha o tamanho que merecia e não o peso das vozes ansiosas que perturbavam a sua mente. Conectou-se com o agora, com o presente, dando a cada momento o significado que tinha!

Não era simples e nem perfeito. Mas, para ela fazia todo sentido! E fazer sentido para nós mesmos é o que importa!

 

 

 

 


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