Era domingo de manhã de um dia fresco e iluminado. E sempre que via o dia começar assim tinha a sensação que a vida estava igualmente boa!
Estava no sítio. Era dia claro, a paisagem verde e o cheiro de café lá na cozinha. Tomou um banho, bebeu um gole do líquido escuro, comeu uma fatia de queijo fresco e saiu caminhando... Já sabia para onde iria, ao longe viu a velha árvore de sua infância. Andou um pouco mais e sentou-se debaixo dela. Ali, só o som de uns pássaros cortava o silêncio. Recostou a cabeça no tronco e deixou toda aquela paz entrar. Quem sabe não ficaria ali para o resto da vida? Debaixo da velha árvore que não falava, não pensava, só inspirava tranquilidade...
Vez ou outra uma formiga passava naquelas trilhinhas entre o capim, que elas mesmas cortavam. Achava aquilo incrível! Se andasse por todo o pasto veria mil trilhas daquelas, feitas por insetos tão pequenos! Riu sozinha...
_Por que você está rindo?
O coração quase saiu pela boca! Olhou para saber quem havia espantado seu silêncio. Do seu lado, um moleque de uns 7 anos, com chinelinhas gastas, joelhos cinzas e uma camisa desbotada. Tinha a pele morena, os cabelos despenteados e os lábios finos. Estava ali a olhando com infinita curiosidade, esperando apenas a resposta.
_ Quem é você? – perguntou ela.
_Por que você está rindo? – ele perguntou novamente ignorando totalmente a dúvida dela.
_ Rindo da vida, menino!
Ele ficou em silêncio, sem entender a resposta entendido e respondeu:
_Sou filho do “Tair” do leite.
Achou graça daquele velho costume de não se ter nome, apenas ser filho de alguém. Não conhecia o pai dele, mas com certeza morava por ali, em alguma roça.
_Sente-se, vamos prosear!
Ele sentou sem a menor cerimônia, pegou um raminho que estava caído e começou a falar:
_Eu não acho que a vida tem graça não. Acho graça é das coisas! Da minha mãe que fica balançando a barriga enquanto varre o quintal. Eu sento e fico rindo dela. Aí ela me xinga e eu saio correndo. Só rindo! Coisa besta ficar rindo sozinha debaixo de árvore... Nem tem graça aqui! Aposto que você está triste, ficou de castigo e está escondendo da sua mãe. Eu sou assim também. Quando eu faço uma coisa errada ou que me deixa triste, eu fico sumido, num lugar caladinho... Desse jeito, o medo que eu estou não chega perto... Mas, nem adianta! Não dá pra morar debaixo de árvore a vida inteira. Tenho que voltar para casa, escutar minha mãe brigando comigo, choro um pouco e pronto. Ficar debaixo de árvore caladinho, não resolve não, a gente sempre, sempre, tem que voltar pra casa.
Olhou para ele sem saber se tinha achado graça ou se tinha ficado assustada. E respondeu:
_ É moleque! A gente sempre tem que voltar para casa... Independente do que você tenha feito, tem sempre alguém nesse mundo esperando as respostas de nossas atitudes.
Ele me olhou com aqueles olhinhos pequenos e escuros, jogou o raminho fora e falou:
_Mas, eu fico com medo, mas não ligo não, porque minha mãe sempre me perdoa! Ela gosta de mim né? Se a pessoa gosta da gente, ela perdoa.
Ela riu dele e disse:
_É, deve ser verdade!
* Texto escrito por Cris Mendonça em 2009.