Há alguns dias andando pelo bairro, vi umas folhas grandes e amarronzadas espalhadas pelas ruas. Muitas delas, em muitas esquinas, fazendo aquele crec de folha seca quando se pisa. Olhei para o alto e a dona das folhas estava lá: nua e bem mais alta que as demais árvores. Lembrei-me de que, na infância, uma vizinha tinha essa árvore, conhecida como amendoeira-da-praia, plantada na calçada. Enorme, majestosa e de raízes fortes, desfolhava-se inteira no outono, como se fosse um pequeno arbusto vulnerável às intempéries do tempo. Suas folhas faziam uma sujeira danada o que levava a vizinha a atear fogo nelas e enfurecer a vizinhança com a fumaça.
Outonos chegaram e partiram, até que num dia a árvore não estava mais lá. Havia sido cortada para deixar a calçada limpa, porém sem graça e cinzenta.
Passados os anos, eu continuo por aí observando as folhas secas das amendoeiras-da-praia e o trabalho que elas dão para serem recolhidas. Mas, agora adulta, e com olhar maduro, além das folhas mortas pelo chão, minha atenção se volta para os brotos que a enfeitam, após a nudez.
A vida nos ensina: existem os tempos de folhas secas e caídas ao chão, elas fazem sujeiras, dão certo trabalho para recolhê-las e sumir com cada uma delas. E enquanto limpamos aquilo que incomoda, estamos nus, sem folhas. Mas, com cuidado e paciência vai se ajeitando tudo: os brotos surgem, novos e verdinhos, para cumprirem outro ciclo, enquanto algumas rachaduras permanecem. Tal, como nós, e como também já escreveu o poeta pantaneiro, Manoel de Barros: "As folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes".