reflexão

Tal como as árvores

Há alguns dias andando pelas ruas do bairro, vi aquelas folhas amarronzadas espalhadas pelas ruas. Muitas delas, em muitas esquinas, fazendo aquele barulhinho de folha seca quando se pisa nel
Foto: Cris Mendonça

Há alguns dias andando pelo bairro, vi umas folhas grandes e amarronzadas espalhadas pelas ruas. Muitas delas, em muitas esquinas, fazendo aquele crec de folha seca quando se pisa. Olhei para o alto e a dona das folhas estava lá: nua e bem mais alta que as demais árvores. Lembrei-me de que, na infância, uma vizinha tinha essa árvore, conhecida como amendoeira-da-praia, plantada na calçada. Enorme, majestosa e de raízes fortes, desfolhava-se inteira no outono, como se fosse um pequeno arbusto vulnerável às intempéries do tempo. Suas folhas faziam uma sujeira danada o que levava a vizinha a atear fogo nelas e enfurecer a vizinhança com a fumaça.

Outonos chegaram e partiram, até que num dia a árvore não estava mais lá. Havia sido cortada para deixar a calçada limpa, porém sem graça e cinzenta.

Passados os anos, eu continuo por aí observando as folhas secas das amendoeiras-da-praia e o trabalho que elas dão para serem recolhidas. Mas, agora adulta, e com olhar maduro, além das folhas mortas pelo chão, minha atenção se volta para os brotos que a enfeitam, após a nudez. 

A vida nos ensina: existem os tempos de folhas secas e caídas ao chão, elas fazem sujeiras, dão certo trabalho para recolhê-las e sumir com cada uma delas. E enquanto limpamos aquilo que incomoda, estamos nus, sem folhas. Mas, com cuidado e paciência vai se ajeitando tudo: os brotos surgem, novos e verdinhos, para cumprirem outro ciclo, enquanto algumas rachaduras permanecem. Tal, como nós, e como também já escreveu o poeta pantaneiro, Manoel de Barros: "As folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes".


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