Meu desejo é que os dias de chuva - estes que nos deixam pensativos, quem sabe nostálgicos - fossem guardados num vidro de balinhas. Para que quando existissem dores teimosas, amores distantes ou vidas confusas, fosse possível apenas abrir a tampa e se entregar à umidade que parece invadir nosso coração nos tornando mais silenciosos, apenas desejosos de conforto, cama e filme.
Um dia de chuviscos e guarda-chuvas esquecidos para nos causar aborrecimentos bobos, de chuva intensa para nos ocultar de amores ingratos ou, quem sabe, de temporais para noites de amor e gozo.
Chuvas assim, guardadas num vidrinho de balas, ao lado da minha mesa de trabalho ou na escrivaninha do meu quarto, para que quando tudo parecesse quente e incômodo, fosse possível abrir o vidro e mergulhar em um novo mundo: cujas águas e travessias fossem tão aconchegantes e surpreendentes que todos os calores mórbidos passariam.
E assim, eu retornaria à realidade com os cabelos molhados, o olhar limpo e a alma lavada dos dias das águas do céu. Tudo assim, tão acessível, apenas no meu vidrinho de balas.