Na última semana a palavra cringe invadiu a internet. O termo, criado pela geração Z - nascida após o ano de 1994/1995 - serve para criticar comportamentos dos millenials - os nascidos entre 1980 a 1994, onde me enquadro.
A gíria cringe se refere a coisas que são consideradas ultrapassadas ou vistas como "pagar mico". Aliás, me disseram que falar "pagar mico" é cringe rs Calça skinny, assistir a série Friends, beber café e falar que paga boletos estão entre os hábitos criticados pela geração Z. A disputa gerou memes bem divertidos, mas também nos faz pensar sobre uma série de questões que só quem é cringe consegue perceber.
Quando somos jovens, somos um tanto quanto arrogantes, cheios de vida e beleza, olhamos os mais velhos com crítica ou desdém. Porém, o tempo que, só não passa para quem morre, nos leva para os mesmos caminhos. Um dia percebemos como nossa personalidade é parecida com a dos nossos pais e nos damos conta que nossa série preferida existe há mais de 20 anos. Não nos sacrificamos para usar uma calça da moda, ainda cantamos em voz alta a nossa música preferida na adolescência e guardamos um velho CD apenas para ter, de forma física, um momento que hoje é apenas uma lembrança.
Lembro-me que quando era adolescente, achava terrível aquelas pessoas de franja repicada, no estilo Chitãozinho e Xororó nos anos 1980. Eu dizia para mim mesma: "Deus me livre de não me adaptar!". O fato é que, conforme amadurecemos, percebemos que se adaptar não é uma mera questão de moda. Aliás, com os anos aprendemos que seguir a moda quase sempre não é uma boa ideia! Se adaptar é uma palavra muito maior e que, por vezes, exercitamos em experiências difíceis: conviver com a ausência de quem se foi, se espremer em um trabalho até que consigamos outro; exercitar a compreensão em nome de uma relação saudável; entender que filhos não nasceram para realizar nossos sonhos, entre outras diferentes situações que exigem inteligência emocional e resiliência.
Cringe não é se apegar a coisas que nos fizeram felizes um dia. Cringe é não reinventar nosso modo de viver, cringe é não ouvir bandas novas porque ainda gostamos das que ouvíamos há 30 anos, cringe é não experimentar o novo porque sentimos que traímos o antigo que mora em nós.
Gostar de coisas que foram pano de fundo dos nossos momentos felizes é natural, mas se fechar ao novo nos tira a possibilidade de viver diferentes emoções. Não existe um muro entre gerações, mas convergências. No Spotify eu tenho uma playlist bem atual, onde se destaca a cantora inglesa Dua Lipa, mas na minha estante, eu guardo com carinho minha coleção de CDs do Skank. Amo os livros impressos, mas resolvi experimentar ler no Kindle. Guardo todas as minhas fotos nas nuvens, mas não perdi o hábito de imprimir as melhores fotografias. Sou bem millenial mesmo, pois minha vida passou diante de videocassetes, DVDs até chegar aos streamings. E tudo bem! Quero aprender com a geração Z, sem esquecer das boas histórias que tenho para contar.
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