Lascou-lhe um beijo apaixonado e se recompôs, ainda vidrada naquele homem de olhos azuis. Segundos depois, não resistiu: repetiu o gesto e o beijou mais uma vez. Ele, pacientemente, aguardou a bitoca para que pudesse continuar a história do livro infantil que lia para ela. A menininha de fraldas e o seu pai, debruçados em um bangalô de praia, sendo um para o outro colo, afeto e paz.
A cena foi filmada pela mãe que, imagino eu, se derretia do lado de lá. Afinal, toda mulher sabe como é importante receber amor de uma pessoa a quem nos foi dado como pai. Uma amiga de infância, inclusive, me disse uma vez que incentivava o marido e a filha a fazerem passeios juntos para que ela crescesse reconhecendo um homem que a tratasse com respeito e afeto. Crescer em ambientes validantes, como afirma uma outra amiga minha, essa psicóloga, traz enormes benefícios no desenvolvimento de qualquer ser humano.
Validação justa e honesta, acolhimento e entendimento das frustrações como parte do caminho são ingredientes da receita para criar outro ser humano, porém sabemos: a lista para preparo desse prato é bem mais extensa e envolve muitos fatores.
O fato é que colo e afeto trazem paz. Receber aquele abraço apertado e gostoso de quem a gente gosta, olhar nos olhos do outro enquanto apertamos as mãos, ouvir que somos importantes de alguém que também é importante para nós, reconhecer e mostrar – por meio de comportamentos – que determinadas pessoas fazem a diferença nas nossas vidas. Somos bichinhos sociáveis que gostam, quase sempre, de estarem juntos!
Se os pais, logo cedo, percebem a importância de dar amor declarado aos filhos buscando o equilíbrio entre reconhecimento e correção, essa criança, provavelmente, crescerá mais consciente dos espaços de afeto ou não-afeto em que ela está. Obviamente, comida no prato e um teto para morar são necessidades essenciais, mas insisto em colocar o afeto nesse combo.
A gente precisa de amor, sim! Um sentimento reconhecido por palavras e gestos, sem a necessidade diária de supor. Se precisamos presumir que o outro nos ama ou se precisamos mudar as peças do quebra-cabeças para tentar encaixar, o desenho não se completa.
Quando escrevi “Mineiros não dizem eu te amo”, eu falei sobre o amor reconhecido nos comportamentos, o amor que, na casa da minha avó, tinha forma, gesto, cheiros e sabores porque amar é um verbo que se pratica.
Amor que se reconhece na filhinha que beija o pai, tão apaixonada; na mãe que fortalece a relação paterna e vice-versa; na comidinha da avó; no companheiro ou companheira que, por meio de atitudes, mostra que você é uma pessoa importante; nas pessoas que, na vida off-line, estão presentes na sua sendo acolhedoras e honestas porque colo é gesto concreto, afeto é reconhecimento, e paz é o resultado do amor que a gente sabe que merece receber.
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