Pedro amava Ana tal como um equilibrista de circo na corda bamba. Era um amor que fazia o corpo tremer de emoção e medo! Amor de desafio, amor no meio do caminho daquela linha solta no espaço, amarrada somente nas pontas. Todo o meio era bambo, instável e emocional! Não era possível saltar e cair na rede frouxa, metros abaixo, pois não havia rede. Ele a queria como tudo ou nada! Como a alegria da chegada ou o desespero da desistência, a vontade de ficar para sempre ou a guerra do eterno fugir.
Mas, Pedro não amou Ana à primeira vista, porque eles se viram desde sempre. Desde crianças. Foi um amor que cresceu, ganhou curvas e desejos. Ela o beijava no rosto com provocação e ele recebia os beijos como redenção.
Nas tardes dos tempos de colégio, enquanto Ana aprendia Matemática, Pedro desaprendia. Os números, racionais demais, não combinavam com a poesia da voz delicada, do cabelo castanho longo e sempre solto, da pequena pinta que ficava logo abaixo da sobrancelha esquerda dela. Cada traço, tão poeticamente ilustrado, não entrava na casa dos logaritmos. Só cabiam nas caixas da memória, que ele reescreveria minuciosamente cinquenta anos depois.
Todos os dias eram uma voz que não saía, uma declaração que não era feita, olhares furtivos...
Mas, um dia um beijo foi roubado! Maquinalmente, pensado. Estruturado por longos anos de espera.
_O que você fez?_ perguntou Ana confusa
_Não gostou?_ ele questionou inocente.
Silêncio.
Outro beijo.
Mais beijos.
Uma cama.
Uma cena daquelas que ficam para sempre. Aquele amor adolescente nunca mais encontrado. Um eterno des(equilibrista) na corda bamba, atônito e desencontrado. Pedro que, ainda e sempre, ama Ana. Ana que não amou Pedro. Pedro que não quis se atirar da corda. Ana que nunca foi ao circo.