Estradas, céus, matas e mares. Pessoas, sorrisos, lágrimas e amores. Gente que chega, gente que parte. Notícias boas e ruins. Tudo segue uma estrada que perdemos de vista, mas não sabemos em qual curva termina. Em cada instante, uma lição. E, em dois segundos, imperceptíveis por quem nos rodeia, um adeus. 

E nos vamos. Enquanto a criança que fomos tem crescido, e o espelho, dela manda recados cada vez mais distantes, nós continuamos. De repente, estamos grávidos. De repente estamos sozinhos. Mudamos de casa, lar e emprego. Sentamos debaixo de uma árvore que sempre esteve, onde antes, nunca fomos. 

Aniversariamos assim. Vendo um relógio que não cessa, um tempo que não para, um amor que não acaba, derretendo pelas paredes invisíveis. O calendário passa. E o tempo, que outros inventaram, nos conta sorrateiramente, que a sobrinha aprendeu a andar, que a avó não consegue ficar muito tempo em pé, que a mãe cansou e o pai não se importa mais. 

Ainda assim, aniversariamos, na expectativa de um recado sincero, escrito num papel de pão, esperando uma ligação de alguém que mora longe, ou quem sabe, um presente que nos surpreenda (particularmente). E, desse modo, renascemos. No conforto do que é antigo e já sabemos como funciona, e no desejo secreto do novo, que nos dá medos e sonhos. Na vela sobre o bolo que não denuncia mais nossa idade, nos abraços de quem sempre está lá, no beijo de quem nos conforta, no colo de quem nos protege. Momentos que serão guardados em fotografias impressas, para que no futuro, possam despertar fragrâncias, que dormem plácidas, em nossas lembranças. E quando menos percebemos, as 24 horas simplesmente passaram. E recomeçamos. Fortalecidos pelo amor e bons desejos de quem nos rodeia, para uma nova idade, que só existe (de verdade) no calendário. 

“Dizem que nasci num dia de chuva.

Dizem...

Mas, sei que era sábado, na parte da manhã.

Assim, como naquele dia.

Continuo amanhecendo.

Hora de sol e calor.

Hora de chuva e nublado.

Mas, constantemente amanhecendo.”